Dedos falantes.


Escrever por escrever ou escrever para ser ouvida. Ouvida mesmo sem ter aquele sentido de algum som saído da minha boca. E para quê escrever, se não for para uma pessoa me ouvir? Alguém me ouvir? Não serve para nada. Os meus dedos falam para alguém que não os ouve ou não os entende. Parecem crianças incompreendidas. Mas não são. Tem gente que vê, gente que olha e lê como se por instantes lessem o que os meus lábios dizem sem se quer se moverem. Tem gente que vem e pega nas mãos para ficar, e tem gente que pega mas larga na primeira vírgula mal colocada ou no primeiro parágrafo. Esquecem que cada história tem vários pontos finais. Vários capítulos. E que cada história, uma boa história, tem milhentas histórias dentro dela. Escrever para gente que vai não é escrever para quem quer ouvir. É escrever para quem gosta de saber de mais. Não quero. Não quero escrever ou falar ou o que for para ninguém que não seja quem quero que leia cada palavra. A ausência, o carinho, a saudade e o cansaço, o amor... Escrever o que sinto e que alguém que me leia sinta também. De nada serve escrever se não houverem uns olhos postos nas palavras soltas por mim. Há uma angústia em cada espaço e vírgula. Há o medo. Há o ter e não ter. E claro, há o escrever para não ser ouvida. De nada o serve, mas algum dia irá servir. Seja em olho de olhão, seja em olho com amor no coração.

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