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Palavras ao vento.
Mando palavras ao vento, à espera que alguém as apanhe. Que alguém as sinta da mesma forma que eu sinto. Que as carregue e as dê a alguém. E de mão em mão as palavras ganhem a força que devem ter. Palavras boas, meigas e que caibam no coração. Ninguém precisa de palavras feias e frias que só cabem na mão de quem não sabe o valor das mesmas. O que não cabe no coração, escorre pelos olhos, não é o que dizem? Escorre e dói. Arde na pele cada lágrima, cada palavra tão fria que nos atiram. O tempo vai sarando, enquanto que outras palavras vão chegando e ocupando o lugar vazio que outrora as outras deixaram.
Mando palavras ao vento, à espera que em alguém elas caiam. Que alguém as oiça e as atenda de forma tão serena e feliz, quanto aquela com que eu as mando ao ar. Palavras soltas, frases soltas. E nada de jeito é dito. O vento leva e trás, sem ondas que traga de volta o que levou. Vento não é mar. Nem tudo o que leva, o vento trás. Trás outras coisas. Coisas melhores. Ninguém quer o pior com elas. Ninguém quer ser o pior delas, ou o pior de alguém.
Mando palavras ao vento, à espera que alguém as oiça. O vento sussurra, arrepia, esfria o coração, palavras mudam o que até então estava fixo e pesado de mais para mudar. E queria mudar o tempo em quem elas caiem, mudar em quem caiem. Palavras lançadas a quem eu quero, que oiçam e aceitem, que saibam o que digo sem necessidade de abrir a boca. Escrever com os dedos, o que os lábios cerrados guardam. Segredos em mim, soltos em palavras lançadas ao vento, à espera que alguém as apanhe.
Mando palavras ao vento, à espera de alguém que as mande de volta para mim. Palavras cheias de algo ou alguém. Não quero palavras mandadas à velocidade da luz, sem serem pensadas ou sentidas. Palavras em modo veloz, em modo vão e vêm, não quero e não preciso. Palavras mandadas, devem ser relançadas na mesma canção, no mesmo tom. Frases feitas por ti. Por alguém. Frases cheias de palavras honestas. Não quero palavras de bastão na mão, punho firme e dedo apontado. Ninguém quer. Ninguém precisa. Ouve-se e cala-se. Cala-se a boca, cala-se o coração. O dedo aponta e os olhos afundam, a lágrima corre, e é aí que as palavras não cabem no coração. Gelam-nos o pensar, o raciocínio e apenas há lugar para a lágrima caída, as palavras perdidas que o vento não soube cuidar, e eu não soube mandar. Palavras frias, resfriadas, de chama apagada, palavras de quem sofre e sofreu, de quem morreu ou morre, por amor e com dor, palavras sem ser o que foram, palavras de frases sem ninguém por trás, sem ninguém aqui e ali, palavras gastas e desgastas pelo vento. O que não cabe no coração, escorre pelos olhos, não é assim? Palavras vindas de um coração frio e vazio, não enche coração, preenche a cara de alguém.
Mando palavras ao vento, à espera de que elas me caiam na mão. Me encham o coração. Palavras que entendam o sabor amargo da solidão, e o calor e amor do coração quente. Que me caia na mão o que é bom de se ver e ouvir. O bom de sentir. Que me caia a calma, e me leve a ansiedade miudinha e o vulcão existente em mim. Que o vento me leve as palavras guardadas com fúria, e me traga as palavras cheia de ternura. Mandadas as palavras, espera-se que o tempo as saiba guardar. E cuidar. Que ninguém ouse deitar palavras ao ar que não sejam vindas de dentro. Tudo o que é dito da boca para fora, não merece o vento que as carrega e a mágoa que fica, a dor que se ocupa do espaço vazio e frio do coração, deixado por alguém. Por ti? Ou por mim? Por alguém que não nós. Alguém que não tu. Alguém que não eu.
Mando palavras ao vento, será que as ouves? Será que eu as oiço?
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