Sim.

Disse-te que sim. Sem perguntas e sem questões. Sem afirmações, sem palavras, sem boca aberta e sem respiração ofegante, sem o cansaço deixado pela ansiedade de um dia inteiro, sem a vergonha e sem o medo. Disse-te que sim sem ainda saberes. Que sim. Que sim, fico contigo. De novo e de velho, com farrapos ou de coração partido, de olhos esbugalhados e cerrados, de cabelo aberto ao meio e suado, de mãos frias e pés descalços, que sim, fico contigo. Pões o teu melhor perfume, a tua melhor camisa e claro, as tuas melhores calças. Distraído como tu és, esqueceste-te do teu melhor calçado. Mas não importa, mal sabes que te disse sim, e já vens pronto a ficar. Sim. Fico contigo. Do teu lado ou sem lado, de frente ensinando o caminho ou atrás amparando as quedas, mão com mão, ou de pés atados aos meus. Sim, fico contigo.
Disse-te que sim. Ainda não sabes que sim, que fico contigo, e já vens para ficar. Ainda nem me conheces. Sabes de cor o meu corpo, mas que mais sabes tu? Conheces os meus medos ou os meus receios? Ou sabes de que forma pronuncio as palavras? Saberás tu que pensamentos vagueiam na minha cabeça? Sabes de cor a minha boca, mas que mais sabes tu? Mesmo assim, sim, fico contigo.
Disse-te que sim. Sem me conheceres como as minhas mãos me conhecem e como o meu espelho me vê, disse-te que sim. No primeiro dia que te vi, foi o primeiro sim. E já perdi a conta a quantos sim’s já te disse eu. Se me deixares ficar, fico quanto tempo quiseres, mas sim, fico contigo. Se o pensamento falasse, cansavas-te das vezes que falo em ti. Gosto deste eu e tu perdido no tempo, deixando-se ir. Ainda nem sabes que te disse sim, e já chegaste para ficar. Ainda nem sabes o que és para mim, e já sabes que és alguma coisa. Mas o que? Já te disse que sim, que fico contigo. Mas que mais sabes tu? És algo. Especial é uma palavra tão lamechas e tão fora de mão. Já ninguém sabe o que quer dizer “especial” porque nem essa palavra já o é. Tornou-se insignificante. E insignificante é palavra que não se encaixa em ti. Ainda estou a tentar descobrir onde esse teu corpo me leva. Onde essas marcas me levam. Ainda estou a tentar perceber o teu corpo, essas marcas, perceber-te a ti. Conhecer-te. E ainda não te conheço, mas sim. Fico contigo.
Disse-te que ficava contigo. Sim, fico. No sofá, na cama, na cozinha, na banheira, eu fico contigo se tiveres medo, se faltar a luz, ou se ninguém mais quiser ficar. Sim, fico contigo. Disse-te que sim. Ainda nem sabias que era tão chata, e já vinhas passo a passo com medo e receio, mas para ficar. Aguenta, aguenta, tudo o que é difícil traz a recompensa no fim. Tudo vale a pena, se fizeres com que valha. Há coisas em ti que tu próprio desconheces que tens. Como esse teu pescoço tão bem feito ou o corpo bonito. És convencido, é certo e sabido. Corre-te no sangue a beleza de saberes que a tens. Mas mesmo assim, disse-te que sim. Fico contigo.
Ficarei. Um dia. Ou ontem. Ou hoje. Ficarei os dias que a vida me der para ficar.

Por isso, disse-te que sim.