Conta errada.

Hoje já perdi a conta às vezes que escrevi e apaguei, que cada letra soltei e agarrei novamente, que gaguejei e escondi as palavras que só queria era mostrar, gritar, falar. Perdi a conta às vezes que tentei me expressar e na verdade nada saiu. Hoje talvez seja um dia não, e ironia das ironias, amanhã é dia 13 e supostamente amanhã é que deveria ser o dito dia não. Mas claro, sou sempre ao contrário das outras pessoas. Para elas é preto, para mim é branco. Para mim já é amor e para elas ainda nem um afeto existe. Pego, rasgo, amaço e agarro. Dou tudo onde ninguém dá nada. Ou nada dou quando dão tudo. Sou o oposto do certo, a metáfora de tudo o que é errado. Sentar-me e ouvir alguém dizer que estou louca é tudo o que mais quero neste momento. Pois o mundo precisa de loucos, não é o que se diz? E diz-se tão bem e tão bem sabia ouvir. Deitar a minha cabeça na almofada e perder a confusão que se alojou em mim, desde que abandonaste a nossa casa. Serei mesmo louca ou então não serei, mas de certeza sou algo fora do normal para dizer barbaridades que ninguém entende e asneiras que toda a gente diz. Adoro-te. Todo o mundo diz. Ninguém ouve quando deve ouvir. Quando perdes, ouves tudo o que não queres, o que queres. Dás atenção até àquela parede suja dos pés dele naquela tarde que ele esteve aí. Dou voltas à mioleira e troço o nariz quando me dizem coisas que não me soam bem. Tenho os olhos pesados e não é de lágrimas, não ia dar essa satisfação a quem a quer ter. Olhem para mim e vejam a felicidade que os meus lábios mostram. Só eles fingem tão bem. Os meus olhos são tão ingenuos que nem um sorriso sabem mentir. Perdi a conta a quantas vezes hoje tentei que uma frase fizesse sentido. E perdi tempo a tentar que algo meu tivesse sentido. Não adianta tentares mudar algo que o destino já pintou, já riscou e vincou. Cada passo que dás em contrário aos riscos do destino, ele troca as voltas, pinta de novo, risca e rasga tudo o que fizeste mal e pensavas que fazias bem. É tramada esta vida. Num dia estás no céu, no outro estás abaixo de terra e sem maneira de lá sair. Ou cavas o teu buraco, ou constróis as tuas escadas. Cais, tropeças, levantas, empurras, tudo ou nada, fazes e pedes para fazer, que raça de vida esta! Tudo uma confusão, tudo complicado ou fácil de mais... Mentira, não há nada fácil nesta vida. Quando dás por ti já perdeste metade das oportunidades e uma mão cheia de momentos. Uma mão cheia! Perdi os dedos a tentar contar as vezes que escrevi uma linha e apaguei, e nesse vai e não vai de conversa batida onde a lógica se perdeu também, deixei fugir a vontade de qualquer coisa. Mas ganhei uma página nova. E todos os dias é assim. Perdes a vontade de uma linha nova, mas ganhas sempre mais uma página.

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