Foge o tempo, mas não fujas tu.

Não fujas que para fugir já basta o tempo. O tempo que não é tempo sem ti, pois ele passa a correr e eu sem ver não o vivo, não sobrevivo, e já não sei o que digo. Perco-me em letras e tretas, conversas de merda e antes que perca o sentido, a lógica e a razão, digo o que vai na mente e o que enche o coração. Cheio de amor, este peito com dor deixada por ti, aqui, assim, foste sem mim, e não quiseste saber mais, e ai de quem dissesse que isso eram mentiras e tais. Agarraste os dias vazios, a força com que me preenchias e aquecias, e foste. Fugiste de mim e esqueceste, perdeste, ou não sei se enlouqueceste, mas a verdade é que foste indo, andando, pedindo a distância, como se ela acalmasse a ganância de ti. Como se apagasse o que não quer, o que não vai, o que insiste em ficar, e lutar. Luta contra mim. O sentimento que ficou de ti, o momento, o tempo, o que ficou de nós. Sem nós, esqueceste o laço, o pedaço, cada bocado, e peça direita ou travessa, cada sinal que a bem ou a mal nos fez um do outro. Espero e desespero, como se por segundos estivesse na sala de espera onde ninguém espera, mas sim desespera, essa sala ruim de esperar e ficar. A sala do coração cheio e alheio, que alguém deixou, abandonou, e amou. O coração que ficou carregado e apaixonado e que sem ninguém se sente perdido, abandonado. Repito e volto atrás e digo o que já disse, e quem não viu que visse. Mesmo repetindo, só digo o que vai aqui, ou ali, onde fores ele vai. Este amor chato, que não larga, que não me larga o pé. Saudade no peito, leva a estrada a direito, sem rumo e sem sentido, perde a direção, agarra a paixão, e anda dia sim dia não, de braço dado com o passado, afogado em quem a largou. Saudade feia, saudade amarga, saudade que me sufoca e afoga, que me leva o bom dos dias, me esfria, não aquece mas arrefece. Saudade que me aperta, que não acerta, que não traz, que não me faz, vai embora que não me sinto capaz. Capaz de te aguentar mais um dia, e outro dia, como se com alegria te falasse e agradasse. Saudade essa que não arranca, que não despega, só agarra mais, só fica demais. Amor que vieste, o que fizeste, que me fizeste ser o que agora sou, que me deixaste apaixonada e desarmada, com a saudade desmaiada em mim, pé ante pé, andando sem ti. Amor que vieste, traz quem levaste, mata a saudade que deixaste. 
Não fujas que para fugir já basta o tempo, e esse está cada vez mais distante, irritante, e não aguento este tormento do teu fugir sem vir, sem voltar, esse teu ir sem ficar. 
Não fujas. que para fugir já basta o tempo. A cama tem espaço e o meu abraço chama por ti. Fica aqui. 

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