Graça sem graça.

Acho graça quando me perguntam se já deitei para trás das costas o teu nome, a tua pessoa e tudo e tudo. Acho graça mas sem graça nenhuma, porque ainda trago bem à minha frente cada traço e picotado, cada linha mal feita, cada desenho borratado e cheio de cor, que me deu vida vinda de ti. Ando de braço dado com as memórias do passado, em vez de caminhar lado a lado com o presente. Presente este que é a única coisa que me resta. Que nos resta. Não temos mais nada a não ser o agora, este momento, porque o ontem já foi, e o amanhã nem sei se virá. No entanto, apesar do ontem já ter sido, é ele que ainda permanece em mim cada dia que passa, cada hoje que me acorda, cada momento que vivo e cada agora que tenho e me resta. É ele, aquele passado tão bom e tão ruim que me vai alimentando a coragem de viver em cada dia tão merdoso que me aparece. Não sei se me acuse desta porcaria de humor, desta porcaria de rotina, ou se culpe alguém por tudo o que me cai em cima, de tudo o que de ruim me diz olá. O tempo passa a correr e eu aqui de braço dado com o passado, andando quase em câmara lenta, na esperança de que o tempo me acompanhe e me traga o que levou. Me traga quem levou.
Acho graça a esta merda de conversa, que não tem graça nenhuma. Rasga-me o peito e tira de mim esta angústia, acaba com este sufoco e traz de volta o amor aos meus dias. Apetece-me bater com a cabeça e por minutos, enquanto a dor estiver cá, esquecer-me do que até ali me magoava e angustiava. Que a dor de cabeça apague a dor do corpo, a dor do peito e todas as outras que sei lá de onde vêm!

Acho graça... Mas não acho graça nenhuma.

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