Corpos escritos.
Escreveu-lhe amor no corpo. E agora implora que o apague, e esqueça. Como se apaga um amor assim? Como se apaga o que está escrito, o que se vive, o que se sente? Como se esquece algo assim? Pois, não se esquece. E enquanto anda nesta roda viva de ser e não ser, de sentir na pele o amor que já não existe, mas que persiste, dói. E vai doendo enquanto a vida passar e os dias existirem para me fazer lembrar do amor escrito com todas as letras e pontuações, com tudo a que o amor tem direito e mesmo tudo o que não tem. Não se esquece o corpo suado e desesperado por mais amor e prazer. Não se esquece a cama onde se dormiu, onde nos esquecemos do que eramos e fomos corpos pegados. Não se apaga nem da memória nem do corpo, nem de ti, nem de mim, o que na vida um do outro fomos. Sem nos lembrarmos em circunstância alguma de quem na verdade eramos. Deixou de correr a tua vida, a minha vida. Passou a viver-se uma vida só. A nossa. E pergunto-te, como se esquece isso? Como se apaga da memória o que se fez questão de guardar tudo na mesma? Isto não é uma folha de papel em que escreves e vens de borracha na mão quando te enganas. Eu não sou uma folha de papel. Tu também não és. Esse corpo é tudo menos de papel. Eu quero a desculpa ferrada no meu corpo. Quero o amor a possuir-me, quero a força das tuas mãos cravadas em mim, as minhas costas coladas aos teus braços, os meus seios espalmados pela força da tua saudade. Quero-te escrito e rescrito de amor por mim. Quero-te. E de que outra forma te posso querer se não for querendo assim?
Escreveste-me amor no corpo. E escreveste-o tão bem.
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