Sem sentido se ama, com sentido se volta a amar.

O romance não é de quem o compra. E quem anda nas graças de Deus a achar que o amor se compra que saia desse chão, que com toda a certeza, digo que mais dia menos dia irá desabar. Amor é uma coisa de cá de dentro, o amor não anda por aí em qualquer lugar, em qualquer esquina e muito menos em qualquer carteira, ou mesmo até em nenhuma. Perco-me nas vezes em que a boca se perde  também na verdade do amor que vem das vísceras, do corpo interno e inteiro, esquecendo o exterior, focando o olhar na alma. Vezes essas que são tão poucas por desconhecerem o verdadeiro sentido da palavra amor. E qual será o verdadeiro sentido destas quatro letras tão cheias, tão gordas? Para cada um, um sentido diferente. Para cada um, um amor diferente. Uma forma de amar diferente, mas que em toda a diferença não deixa de ser amor. Todo o gelo derrete, todo a fervura acalma, a pele arrepia, as pernas tremem, até os dias de chuva ficam como dias de verão, onde o amor mete as mãos, ou devo dizer, o coração. Coração de quem quer, de quem manda fora a solidão, abrindo a porta à mão que quer agarrar, dando asas à alma que quer voar junto, que está cansada de vaguear sozinha por ares à procura do ar certo para viver. Amor é de quem abre portas para ele, não de quem as fecha, achando assim que consegue tudo, quando no fim da noite, resta a cama vazia e a mão perdida à procura da mão que a deixou assim. Corpos não passam de corpos sem amor. Cama é só uma cama, vazia e sem nada para contar, se for  sem amor. Um quarto não passa de quatro paredes vazias e frias, se nelas não assentarem vozes carregadas de amor, seja que amor for. Vozes carregadas do desejo dos corpos que não passam de corpos até ao instante em que se tocam. Até ao momento em que a  mão vazia fica preenchida pela palma da mão do corpo perdido pelas ruas do destino ausentado. Aquele destino que foi ou que nunca chegou a ser. E de frases feitas vive o amor, quando deveria ser feito de palavras desfeitas, corpos colados e os segredos esfarrapados, porque o amor é uma janela aberta para quem se ama. Ou deveria ser. Apegar-se sem no fundo o querer, olhar por horas parecendo que já se está de olho pegado à não mais que um segundo, rasgar as roupas, rasgar o peito e deitar fora tudo o que não presta, tudo o que não faz falta. 
O romance não é de quem o compra, e o amor não é para quem quer lutar de espada arrumada. 

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