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Já agora, quem és tu?
Fica quem quer, da mesma forma que vai quem quer ir. Não obrigo ninguém, não empurro nem puxo ninguém. Não quero alguém na minha vida por obrigação, só de coração. Só. (Como se já fosse pouco).
As boas vindas de braços abertos, de coração vazio e pronto a receber tudo o que vier das mãos de quem o agarra, os olhos a receberem a alma como se fosse tão de quem a vê como de quem a tem, já chega. Já era! E era faz tempo.
Chega e diz que vem para ficar, quando ainda nem entrou e já tem um pé de fora. Pede-se confiança como se fosse a esmola do mendigo, o pão do pobre ou o amor dos feridos. Pede-se, e fica-se ofendido se não se recebe. Ingratos! E viva o prazer de se saber usar e abusar da ironia da vida. O amor, tal como a confiança, não se pede. Faz-se por se ter! Mas aprendeu-se tão rápido a fazer por se perder que já poucos sabem como fazer para a ganhar. E o ganhar. O amor, o calor do abraço, a ternura de um beijo numa noite qualquer, e a sensualidade do mesmo na madrugada a meio da semana. Já que no fim de semana se tornou um mero cliché.
Ouso dizer que desaprendeu-se o amor. Desaprendeu-se e desprendeu-se. Esse sentimento mais puro que a vida nos dá. E também tira, ou não fosse o próprio jogo da vida. Dar e tirar. Também se costuma dizer, e com a boca cheia de verdade se diz, Deus tira com uma mão e dá com a outra. Só peço que ele também saiba dar umas valentes chapadas com as duas mãos - ou nem que seja só com a direita - a quem merece e a quem faz por merecer. A quem entra com a vontade despida e escondida, tapando-me os olhos à verdade nua e crua, que é como quem diz "eu não quero, são só cinco minutos". E sai com a mesma vontade com que entrou: nenhuma. Apenas sai.
Fica quem quer, da mesma forma que vai quem quer ir. Não obrigo ninguém. Jamais! A mão que dá, também tira. O coração que ama, também esquece, também "desama". Esfria-se o corpo, arrefece-se a alma, e a memória guarda o que é bom de guardar e tantas outras coisas más que não deu para deitar fora, nem com vontade nem com o tempo.
Por agora é assim. Sou assim. Talvez noutro dia qualquer seja um assim diferente, quando também as coisas forem de maneira diferente. Quando também tu fores diferente.
(Já agora, quem és tu?)
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