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A morte bateu-te à porta cedo de mais.
Pouco a pouco, vão indo. Um a um, como se em fila estivessem. São variadas as idades que o dedo escolhe. Ora agora uma pele enrugada, ora agora uma pele que ainda nem sabe o que é a vida, que ainda nem conheceu o mundo lá fora. Ora agora um jovem. Nunca estamos preparados. Digam o que disseram, façam o que fizerem, só temos o hoje, o agora. E cada vez mais isso se comprova, com as partidas inesperadas, com as horas do diabo que cada vez são mais que as horas que não o são. O agora é a única coisa que nos resta, pois na verdade, o resto é apenas o resto. O ontem já foi, o amanhã nem se quer sabemos se existirá. Aproveitar o que tenho de momento é a única coisa que me poderá fazer feliz. Sem grandes planos, sem grandes trajectos, pois até quem sonha pequeno às vezes cai.
Pouco a pouco, vão indo. Um a um, sem hora de partida, sem hora marcada, sem um aviso prévio, e sem se quer uma razão que se entenda, que alguém perceba e que diga, "ok, tinha de ser". Porque nunca tem de ser. Achamos sempre que havia uma oportunidade, que havia mais um dia, mais uma tentativa. A vida de uma pessoa é sempre e será sempre um segundo, qualquer coisa se multiplica, até ao dia em que a conta acaba, e o resultado quer queiramos quer não, será sempre o mesmo.
Pouco a pouco, e cada vez mais depressa, vão indo, um a um, e achamos sempre que não merecia. E a pergunta que fica e que surge sempre, "porque?". Porque ele, porque ela, porque nós, porque e porque e porque. Perguntas sem resposta que com certeza são levadas com a alma da gente que vai, não deixando nada na alma da gente que fica, a não ser a saudade e a memória de alguém que foi, alguém que não volta, alguém que deixou uma moldura cheia de qualquer coisa que cabe a cada um preencher e guardar.
"Vivam!" e quando se diz parece pouco o que se pede, e enganados vivemos pouco na verdade. Perdemos o tempo entre as mãos, escapa-nos entre os dedos os segundos, esquecem-se as palavras, o coração deixa de existir, o corpo trabalha e a alma fica cada dia que passa mais pobre. Andamos a vaguear, sem na verdade observarmos e aproveitarmos nada do que pisamos. Do que vemos. Do que sentimos. E aprende-se a dizer "vida" de lágrima no olhar, de sorriso caído, de cabeça aterrada, pois é tão curta, e nós ainda a encurtamos mais. Nós e essas horas do diabo que ajudam a encurtar pouco a pouco a vida de alguém.
E pouco a pouco, com a partida de cada um, resta aprender com quem fica. E aprendermos nós a ficar também. Aqui, e agora. Vivendo apenas isto, o agora.
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